Relações desgastadas pelo convívio intenso

Semana passada sentimos um sopro de esperança com as notícias do início da vacinação no Brasil.  Uma esperança não somente para nossa saúde física e mental, mas, principalmente, para a expectativa de termos nossas vidas de volta. 

Foto: Henri Pham / Unsplash

Foto: Henri Pham / Unsplash

Com a pandemia, perdemos de forma impactante nossa liberdade – de ir e vir, do nosso espaço, dos nossos relacionamentos.  A sala de aula foi transferida para a mesa da sala, os escritórios para os quartos – e feliz daqueles que dispunham de uma estrutura capaz de acolher todas essas mudanças – a obrigatoriedade de servir café, almoço e jantar, as rotinas de limpeza e arrumação.  As atividades foram alteradas e tivemos que responder de forma rápida a todo o cenário incerto que se apresentava.  

Nossas vidas são regidas pela rotina, pelos horários que levantamos para cumprir nossos compromissos, sejamos crianças, adolescentes ou adultos.

Temos uma sequência de atividades que correspondem às nossas necessidades individuais, e que possibilitam o cumprimento de todas essas ações.  E é nesse ponto das nossas vidas que cultivamos a nossa felicidade individual.

E sim, apesar de sermos seres sociais, a nossa felicidade individual é imprescindível para que possamos ter sucesso na nossa vida em família ou em sociedade.  E entenda-se felicidade individual pela possibilidade de realizarmos coisas cotidianas como tomar café na padaria, levantar no horário que é melhor para minha rotina, ir almoçar num restaurante gostoso ao lado do trabalho, encontrar os amigos no final do dia, ligar para os parentes ou amigos com privacidade – uma das coisas mais caras para um indivíduo, a privacidade, a individualidade.  A grande maioria das pessoas, teve que compartilhar os mesmos espaços, ininterruptamente, por vários meses e, com isso, o contexto mais impactado foi o dos relacionamentos interpessoais.

Sem individualidade a pessoa se sente pressionada pelas questões daquele grupo social – no caso da pandemia nossa própria família – que se tornará um ambiente cada vez mais aversivo, ao contrário do que normalmente era – o nosso porto seguro, o lugar onde descansávamos e nos sentíamos acolhidos e seguros.

A família passou a ter que lidar com seus elementos o tempo todo, sem interrupções, para todas as atividades.  Aquela irritaçãozinha que tínhamos numa hora ou outra quando estávamos em casa, as diferenças entre os familiares, tudo isso foi intensificado diretamente pelo tempo de convivência.  Não é surpreendente que o número de divórcios tenha aumentado na pandemia.

Se juntarmos ao stress próprio da pandemia, a impossibilidade de termos nossos prazeres diários mais simples satisfeitos e acrescentarmos a intensidade de relacionamento ao que fomos expostos, não seria possível ter outro resultado além de conflitos extras.  As dificuldades de relacionamento já existentes foram potencializadas e num cenário em que estávamos impedidos de buscar outras formas de “refrescar a cabeça”.  Foi a junção perfeita para o desgaste das relações ao longo de todo o ano de 2020.

E o reflexo dessa condição em nossa saúde mental é avassaladora. 

Pois perdemos nosso porto seguro, aquele abraço tranquilizador, aquela conversa amena.  Passamos a ficar somente com a parte da “invasão da privacidade” feita pela própria família.  Cultivamos as dificuldades mais do que o acalanto, estivemos mais estressados e preocupados do que nunca.  E, infelizmente, toda essa condição se refletiu nos conflitos familiares virando um grande ciclo vicioso – temos um ambiente familiar muito pesado, conflituoso e estressante em função dessa falta de liberdade individual, ficamos mais estressados, entramos em mais conflitos e o ciclo se fecha.

Mas o que fazer para resolver essa situação, tendo em vista que a pandemia se arrefeceu em alguns momentos, mas agora se agravou e não acabou ainda?

É necessário quebrarmos este ciclo, controlar o que é possível - o seu comportamento.  Busque seu espaço, preserve sua individualidade e respeite a individualidade de cada familiar.  Mantenha o distanciamento social, mas desenvolva atividades seguras para relaxar, cuidar da sua saúde física e mental.

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Erika Scandalo

Especialista em Psicologia Clínica Comportamental, produz conteúdo sobre a vida e como aproveitá-la de diferentes formas. Acredita que a felicidade é consequência de uma visão proativa sobre as dificuldades. Ser feliz é mais um olhar sobre o que se é, do que ter tudo o que se quer.

Erika Scandalo

Especialista em Psicologia Clínica Comportamental, produz conteúdo sobre a vida e como aproveitá-la de diferentes formas. Acredita que a felicidade é consequência de uma visão proativa sobre as dificuldades. Ser feliz é mais um olhar sobre o que se é, do que ter tudo o que se quer.

http://www.erikascandalo.com.br/
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