Estar na Pele da Letícia: Página 03
Eu estou sentada no chão frio do banheiro tentando lembrar como se respira. Esse é o terceiro ataque de pânico do mês.
Acho que posso dizer que o que mais tem me dado gatilhos de pânico nos últimos 6 meses é o relacionar-se com os outros. É a minha posição frente a todos os demais seres que me cercam.
Me sinto, honestamente, a pior pessoa do mundo. Digo pra mim repetidas vezes ao longo dos dias como sou má. Uma péssima neta, uma filha terrível, um lixo de irmã. Cuspo palavras destiladas de ódio direcionadas a ninguém além de mim. Rio com desprezo das minhas tentativas tolas de ser uma boa advogada e uma boa escritora.
Me digo como sou feia e incompetente. Como me pareço o patinho feio daquela história que minha mãe leu pra mim quando pequena. Cercada de cisnes majestosos, condenada a viver no desencaixe.
Mas, acima de tudo, me considero uma amiga detestável. Pessoas com transtornos mentais não são fáceis de se lidar. Não somos raios de sol disponíveis para aqueles que amamos 24 horas por dia.
Somos seres humanos um pouco mais vulneráveis que o normal. E decepcionamos, dizemos as coisas erradas, seguimos na vida meio tortos e sem rumo.
Eu sinto não poder ser a amiga que eu acredito que meus amigos merecem. Eu sinto por ser essa criatura bagunçada que carrega consigo uma bagagem nada leve e divertida.
Sinto porque hoje mesmo quando o pânico invadiu meu peito, me paralisou a fala e encurtou a respiração… eu tive medo de morrer sozinha. E de estar sozinha. De ser engolida pela solidão que habita em mim.
E posso dizer que sei que habita em mim porque tenho excelentes amigos que me estendem a mão sempre que preciso. Infelizmente, por ser quem sou, isso não basta. Meu cérebro me faz duvidar que eles de fato gostem de mim, me questionar se as relações que estou tecendo são reais ou fruto da minha imaginação.
Então por hoje eu vou me deixar ser uma neta, filha, irmã mediana. Vou ser uma amiga de merda e não aparecer nos eventos simplesmente porque me falta força. Vou deixar as mensagens acumularem sem resposta.
Que a gente tenha um pouco mais de compaixão própria, pode ser? Vocês daí e eu daqui, assim a gente segue junto.
Até breve!
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Letícia Cais
Letícia é estudante de Direito e autora de “Gira, o livro”. Canceriana, sente tudo com intensidade. Começou a publicar seus textos na internet em 2016 e nunca mais parou.
Apaixonada pela escrita e por tudo que ela proporciona, encontrou nas palavras um refúgio para suas reflexões.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.