Estar na Pele da Letícia: Página 03

Eu estou sentada no chão frio do banheiro tentando lembrar como se respira. Esse é o terceiro ataque de pânico do mês. 

Lembro que a primeira vez que escorreguei nessa parede no meio de um pico de ansiedade achei que a cena lembrasse um filme clichê ruim de Hollywood. Irônico, pois não existe glamour algum em sentir sua vida desmoronar na sua frente. 

Acho que posso dizer que o que mais tem me dado gatilhos de pânico nos últimos 6 meses é o relacionar-se com os outros. É a minha posição frente a todos os demais seres que me cercam. 

Me sinto, honestamente, a pior pessoa do mundo. Digo pra mim repetidas vezes ao longo dos dias como sou má. Uma péssima neta, uma filha terrível, um lixo de irmã. Cuspo palavras destiladas de ódio direcionadas a ninguém além de mim. Rio com desprezo das minhas tentativas tolas de ser uma boa advogada e uma boa escritora.

Me digo como sou feia e incompetente. Como me pareço o patinho feio daquela história que minha mãe leu pra mim quando pequena. Cercada de cisnes majestosos, condenada a viver no desencaixe.

Mas, acima de tudo, me considero uma amiga detestável. Pessoas com transtornos mentais não são fáceis de se lidar. Não somos raios de sol disponíveis para aqueles que amamos 24 horas por dia. 

Somos seres humanos um pouco mais vulneráveis que o normal. E decepcionamos, dizemos as coisas erradas, seguimos na vida meio tortos e sem rumo. 

Eu sinto não poder ser a amiga que eu acredito que meus amigos merecem. Eu sinto por ser essa criatura bagunçada que carrega consigo uma bagagem nada leve e divertida. 

Sinto porque hoje mesmo quando o pânico invadiu meu peito, me paralisou a fala e encurtou a respiração… eu tive medo de morrer sozinha. E de estar sozinha. De ser engolida pela solidão que habita em mim. 

E posso dizer que sei que habita em mim porque tenho excelentes amigos que me estendem a mão sempre que preciso. Infelizmente, por ser quem sou, isso não basta. Meu cérebro me faz duvidar que eles de fato gostem de mim, me questionar se as relações que estou tecendo são reais ou fruto da minha imaginação. 

Então por hoje eu vou me deixar ser uma neta, filha, irmã mediana. Vou ser uma amiga de merda e não aparecer nos eventos simplesmente porque me falta força. Vou deixar as mensagens acumularem sem resposta. 

Vou calar um pouco essas vozes internas e ter como minha única meta dos próximos dias ser boa comigo e para mim. Me amar, valorizar, celebrar. Me colocar em primeiro lugar. 

Que a gente tenha um pouco mais de compaixão própria, pode ser? Vocês daí e eu daqui, assim a gente segue junto.

Até breve!

***

Letícia Cais

Letícia é estudante de Direito e autora de “Gira, o livro”. Canceriana, sente tudo com intensidade. Começou a publicar seus textos na internet em 2016 e nunca mais parou.

Apaixonada pela escrita e por tudo que ela proporciona, encontrou nas palavras um refúgio para suas reflexões. 



Letícia Cais

Letícia é estudante de Direito e autora de “Gira, o livro”. Canceriana, sente tudo com intensidade. Começou a publicar seus textos na internet em 2016 e nunca mais parou.

Apaixonada pela escrita e por tudo que ela proporciona, encontrou nas palavras um refúgio para suas reflexões. 

 Instagram: @lele_chieppe

E-mail: leticiacais.c@gmail.com 

Medium: leticiachieppe.medium.com

Anterior
Anterior

Estar na Pele do Carlos: Página 07

Próximo
Próximo

Onde há vontade, há um caminho