Janeiro Branco
Você conhece a campanha Janeiro Branco?
A iniciativa, ainda nova, foi criada no Brasil com o intuito de promover a importância do olhar para a saúde mental de cada um, além de possibilitar reflexões, quebrar tabus, sobre a importância do cuidado de dores psíquicas. A campanha foi iniciada em 2014 e a escolha pelo mês de janeiro não foi por acaso, ela está ligada ao espírito de ano novo, reflexões e estabelecimento de metas. Durante o mês, a ideia é colocar o tema em evidência e promover reflexões nas redes sociais e outros ambientes de diálogo.
O ano de 2020, recém encerrado, foi marcado pelo sentimento de espera pelo fim do vírus, somado a sofrimentos financeiros, angústias ligadas a fragilidade humana como o medo da morte, dentre tantas outras dores decorrentes do desconhecido. 2021, certamente, será um ano com clima de esperança, porém seguimos em pandemia, isolados, sem saber até quando. Mais do que nunca, parece importante falar sobre saúde mental!
A COVID fez com que tivéssemos que buscar forças, mesmo sozinhos, para lidar com o perigo real. Contudo, o tempo foi passando, pouco se resolvendo, alguns perderam pessoas queridas sem possibilidade de se despedir. Nossos rituais como velórios, aniversários e festas de final de ano foram diferentes e mais solitários. Estamos agora em 2021, mas ainda marcados por um ano de profunda solidão, sendo que muitos perderam a esperança de ter companhias vivas, enquanto outros preferem negar o perigo da doença para aliviar o silêncio solitário do isolamento.
Todos foram se adaptando, mas será que isso é saudável? A pulsão de vida nos faz buscar formas de aliviar a solidão com segurança, contudo, em muitos momentos a pulsão de morte se mostra num vazio sem perspectivas. Até quando viveremos isso?
A campanha Janeiro Branco, em tempos tão sombrios, se mostra ainda mais importante. No Brasil há uma baixa adesão a tratamentos que visam o cuidado com a saúde mental, fato relacionado não só ao alto custo, mas com o preconceito e desinformação. A cultura brasileira parece não valorizar o cuidado da mente, sendo populares discursos minimizando sofrimentos decorrentes de adoecimentos como a depressão.
Não só o cuidado físico é importante, mas também o psíquico. Uma dor sem localização corporal, mas que afeta o sujeito no todo de sua vida, é importante que a população tenha conhecimento a respeito disso e de que há terapias disponíveis às quais ele pode recorrer. O acesso à saúde mental/emocional depende, necessariamente, do acesso ao nosso mundo interno, à ideia de que se passam fenômenos conosco sobre os quais não temos total consciência e, em alguns casos, precisamos de um profissional que nos ajude a metabolizá-los. Quanto ao JANEIRO BRANCO, muito bem pensado que comecemos o ano pondo em dia nossa lista de prioridades na busca por uma vida psíquica mais de acordo com nossos desejos e, neste caso, a psicanálise pode ser um bom começo.
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Mariana Pavani
Psicóloga clínica, atua em consultório particular em Campinas-SP. Fez especialização e cursos livres em psicanálise. Sempre gostou muito de ler e é curiosa, o que a levou a escrever alguns textos e criar blogs desde cedo. No início na clínica, escrever foi algo que a ajudou e ainda ajuda, pois a mantém estudando e além de facilitar a comunicação com pessoas sobre variados temas.