Setembro Amarelo e Pandemia: Por que precisamos falar sobre os sentimentos?

O que é o Setembro Amarelo? Por que a importância de falar sobre o suicídio? E antes de mais nada, de falar sobre os sentimentos. Algo tão negligenciado na nossa sociedade, como se fosse um pecado, um erro, expressar as emoções, verbalizar as sensações, comunicar o que sentimos.

Foto: Shreyas Malavalli / Unsplash

Foto: Shreyas Malavalli / Unsplash

Parece simples e óbvio quando coloco que precisamos primeiramente respeitar nossos sentimentos, para assim, informar para o outro e para a sociedade, o lado emocional que acaba ficando em segundo plano. Consequentemente, quando não me expresso e tenho vergonha do que sinto, a tendência é acumular, sentir angústia, e com isso, os desdobramentos são os mais variados possíveis, e os desfechos, em alguns casos, são negativos, custando a própria vida.

O mês de Setembro possui esse apelo para a questão do suicídio por algumas razões, vamos a elas:

Em setembro de 1994, nos Estados Unidos, o jovem de 17 anos Mike Emme cometeu suicídio. Ele tinha um Mustang 68 amarelo e, no dia do seu velório, seus pais e amigos decidiram distribuir cartões amarrados em fitas amarelas com frases de apoio para pessoas que pudessem estar enfrentando problemas emocionais.

A ideia acabou desencadeando um movimento de prevenção ao suicídio e até hoje o símbolo da campanha é uma fita amarela. Inspirado no caso Emme, o “Setembro Amarelo” foi adotado em 2015 no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Além de trazer esse tema à tona, as campanhas disponibilizam informações e opções de tratamento para o público, visando reduzir o tabu e o preconceito que faz com que muitas pessoas evitem falar sobre suicídio e, principalmente, a buscar ajuda. Ainda existe o fato de muitos acharem que o suicídio é algo distante e que afeta poucas pessoas. Fora, a dificuldade que é trazer discussões mais aprofundadas sobre esse assunto.

Infelizmente, é um problema de saúde pública, mas não é tratado como tal. Então, é muito importante desenvolvermos canais de comunicação e informação para que as pessoas sintam-se apoiadas, percebam que não estão sozinhas e que existem caminhos para lidar com o seu sofrimento.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio em algum lugar do planeta. Ou seja, em um ano, mais de 800 mil pessoas perdem sua vida dessa maneira. Dados levantados pela instituição em 2016, também apontam que suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos. 

Diante desse cenário, fica clara a necessidade de dar mais atenção ao tema, com campanhas de conscientização e debates que possibilitem a quebra do tabu sobre o problema. E é essa a proposta do Setembro Amarelo. 

Qual a relação do suicídio com a Pandemia?

O suicídio pode ter diversas causas, mas, segundo o CVV, as mais comuns estão associadas a transtornos psicológicos. E a saúde mental é um tema que merece ainda mais atenção no contexto do isolamento social exigido pelo novo coronavírus.

“A quarta onda”. É assim que especialistas têm definido as sequelas emocionais que serão deixadas pela pandemia. A primeira onda é a do vírus em si, enquanto a segunda e a terceira estão relacionadas aos problemas no setor de saúde e ao abandono de tratamento de doenças crônicas por pessoas que não estão com Covid-19. 

A onda das doenças mentais já chegou e não temos mais tempo a perder.
— Dr. Antônio Geraldo da Silva, Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Como se não bastasse a piora de quem já enfrentava algum tipo de transtorno, o levantamento também aponta que 67,8% dos especialistas, após o início da quarentena, receberam pacientes novos que nunca haviam apresentado sintomas psiquiátricos antes.

E, infelizmente, parte da população não está conseguindo receber o apoio adequado, mesmo precisando cuidar da saúde mental e ter atendimento psiquiátrico.

Quais são os canais de contato?

Vale ressaltar que, segundo a OMS, 90% dos suicídios podem ser prevenidos.

Se você conhece alguém que pode estar precisando de ajuda é importante saber ouvir sem emitir julgamentos e ser empático sobre os sentimentos do outro. Minimizar os problemas enfrentados pela pessoa, ainda que pareçam desimportantes para você, não é uma boa opção. É preciso respeitar a forma como a pessoa vê a situação. Ao mesmo tempo, por mais que as intenções sejam as melhores, é fundamental incentivar a pessoa a procurar ajuda especializada.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma associação sem fins lucrativos que oferece apoio emocional e busca prevenir casos de suicídio.

Caso precise de ajuda ou conheça alguém que precise, ligue para o 188 ou acesse o site do CVV.

Tanto o chat da página quanto o telefone ficam disponíveis para contato 24 horas por dia em todos os dias da semana. O serviço é sigiloso e gratuito.

Por isso, não tema falar sobre como se sente. Tem muita gente que está disposta a ajudar sim. A Campanha é feita no mês de Setembro, mas a ação de prevenção, cuidado, e atenção é para ocorrer ao longo do ano inteiro.

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Camila Jacob

Graduada em psicologia pela PUC Campinas, há 16 anos. Especialista em Treinamento em Psicoterapia Breve Psicanalítica, pela Unicamp. Atuou por 10 anos, como Matriciadora de Saúde Mental na Rede Pública. E trabalha com Psicoterapia, há 16 anos, em consultório próprio.

Camila Jacob

Graduada em psicologia pela PUC Campinas, há 16 anos. Especialista em Treinamento em Psicoterapia Breve Psicanalítica, pela Unicamp. Atuou por 10 anos, como Matriciadora de Saúde Mental na Rede Pública. E trabalha com Psicoterapia, há 16 anos, em consultório próprio. 

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