Todos somos responsáveis

Mulher, 44 anos, negra, classe média, ensino médio completo, caixa de supermercado. Num domingo de Sol ela abreviou sua vida. Para quem ficou, irmãs, mãe, sobrinhos a dor é imensa... Ela era minha tia. Todos se perguntam, até hoje, 16 anos depois, onde erraram, porque não estavam próximos a ela naquela ocasião, o que deveriam ter feito? Perguntas sem respostas e mesmo que as encontrarmos, não é possível voltar no tempo.

Foto: Maria Oswalt / Unsplash

Foto: Maria Oswalt / Unsplash

O silêncio do suicídio é algo peculiar que se mantém muitas vezes antes e depois do fato ocorrido, por isso esse tema é algo que precisa ser trazido à tona como um fator existente na vida do ser humano.

Aqueles que o concretizam não conseguiram esperar mais um dia, não deram mais uma chance, a vida tornou-se mais pesada do que poderiam suportar, e de repente foi tarde demais. Optaram por uma escolha permanente para problemas temporários. Restando assim sentimentos de desonra, tristeza, angústia, dor emocional, e um estigma familiar e social, que infelizmente pode ser repetido.

Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com a Universidade de Brasília (2019), no Brasil a cada dez jovens que tiram a própria vida, seis são negros, ou seja, existe um percentual superior de mortes abreviadas para a comunidade negra. Situação que representa uma marcante consequência de uma sociedade em que o racismo estrutural está presente no cotidiano de diversos brasileiros, onde o acesso à educação, oportunidades profissionais, melhores condições de moradia, são regalias para poucos. A maioria da população negra que desde a escravidão teve seu acesso econômico e social dificultados, está nas periferias, e em sua maioria com as funções mais baixas da hierarquia social. Situações que podem gerar gatilhos emocionais bastante representativos, sendo um deles a depressão.

As circunstâncias citadas acima elucidam impactos sociais, econômicos, emocionais e de saúde pública, e trazem uma triste consequência para a sociedade. Porém, deve-se lembrar que no que tange ao sofrimento trazido pela abreviação de uma vida não há diferença entre os seres humanos. O processo de luto é doloroso e profundo para todos que passam por essa experiência, sendo indicada sempre a busca de auxílio psicológico para amparar no suporte a tal fatalidade. Neste momento não há distinção de gênero, cor ou classe social. As angústias e sofrimentos devem ser trabalhados com respeito, os familiares no pós-suicídio e as pessoas que se encontram em desequilíbrio emocional, devem ser acolhidos com amor e apoio e compreensão pelos profissionais envolvidos.

É importante ressaltar que sempre há tempo para pedir ajuda. Se estiver difícil suportar sozinho as dores da vida, se faz necessário ter extrema paciência. O assistido precisa ser ouvido com atenção, suas dores devem ser trazidas à tona. Um momento da vida que é difícil, deve ser observado tal qual um momento proveniente de vários outros a serem vividos, e que aquele peso insuportável, pode ser diluído com um tratamento apropriado a cada caso, em cada sessão de atendimento.

Todos somos responsáveis, se todos passarem a pensar no próximo como alguém que merece atenção, respeito e amor, o sofrimento das pessoas mais sensíveis à vida pode ser reduzido.

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Carol Roso

Eterna estudante, no momento cursa psicanálise. Desenvolve projetos voltados para o aprimoramento pessoal e interpessoal. Comunicadora formada em relações públicas, dedica-se a entender e auxiliar as pessoas com suas dores e angústias do dia a dia, propondo terapias em grupo e atendimentos individuais. 

Carolina Roso

Eterna estudante, no momento cursa psicanálise. Desenvolve projetos voltados para o aprimoramento pessoal e interpessoal. Comunicadora formada em relações públicas, dedica-se a entender e auxiliar as pessoas com suas dores e angústias do dia a dia, propondo terapias em grupo e atendimentos individuais. 

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