Estar na Pele do Carlos: Página 01

Há um tempo, eu acompanho o trabalho de dois grandes amigos meus no Bem do Estar.

Foi então que, um dia desses, depois de enviar uma mensagem errada de trabalho para Bel, minha amiga de longa data e criadora deste lindo projeto, eu aproveitei a oportunidade e perguntei como eu poderia ajudar. Ela, sabendo da minha tendência a escritor amador, me convidou para escrever para o Estar na Pele. Claro que topei na hora. 

Um ponto importante, antes de eu contar minha história, é contar que eu e a Bel fizemos parte de um grupo grande de amigos na época dos nossos vinte e poucos anos. Nos identificamos, e passávamos horas e horas a fio conversando pelo telefone, ou em seu apartamento sobre comportamento e as ramificações de nossas aventuras amorosas na época, além de análises profundas sobre o comportamento das pessoas, em geral, e, principalmente, sobre nossas questões psicológicas inseridas em meio a tudo isso. O tempo passa, esta turma se debandou, o ritmo de trabalho aumentou, cada um seguiu seu caminho, porém com um grande amor por toda esta vivência. Sei o quanto estas conversas foram importantes para ambos e, hoje, mais de 10 anos depois, nos encontramos aqui, propagando estas palavras para ajudar outras pessoas, cada um ao seu modo.

Foto: Fa Barboza / Unsplash

Foto: Fa Barboza / Unsplash

Fiz 40 anos, em meio a esta crise mundial, mas não pretendo falar de pandemia neste texto, vamos guardar o tema para um próximo. Porém, me sinto à vontade para falar abertamente que já tive diversos diagnósticos psicológicos na minha vida. TDAH (déficit de atenção), hiperatividade, Síndrome de Borderline (o que eu, mais tarde, entendi claramente que eu não tinha) e o mais importante deles, que eu carrego como um balizador para minha vida adulta: ansiedade crônica.

Todo mundo sabe que os ansiosos dominariam o mundo, se acreditassem que seu plano daria certo.

Li esta frase em algum destes memes de autoajuda, e fico à vontade em citá-lo pois passei grande parte da minha existência lutando contra os fantasmas da minha insegurança. Criança gordinha, assustada, oprimida pelo bullying. Mais tarde adolescente descobrindo-se gay, o oprimido torna-se opressor para se libertar do estigma de vítima, bebida, drogas e insatisfação intrínseca. Superada a fase de revolta, o início da vida adulta: aceitação da minha sexualidade, família, mercado de trabalho, falta de grana pra faculdade e, em meio a tudo isso, a tentativa de encontro da minha posição na sociedade, num geral. Tudo isso me trouxe uma sensação infindável de que as coisas não dariam certo, e com isso, o medo. Medo de perder minha família, o trabalho, os amigos, os namorados, a vida. 

Percebi que passei grande parte da minha existência com medo. E, por incrível que pareça, o fato de ter nascido em uma família humilde, porém de índole irretocável, me ajudou bastante. E ser gay também, pois a mistura destes dois fatores me fez um pouco mais safo, e não me deixaram desistir. Eu fui motivado pela busca incessante por independência. Nunca me deixei abater por muito tempo, e meu lema sempre foi: levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima, parafraseando a saudosa Beth Carvalho. Em um próximo texto, eu conto pra vocês como os meus hobbies (dentre eles a música) são imprescindíveis na minha eterna busca por equilíbrio.

Aos 40 anos, posso dizer pra vocês, com toda certeza, que convivo com os monstros da minha ansiedade todos os dias, mas os venço. Um dia de cada vez, como um vício.

Não tomo mais nenhum remédio (a não ser o meu inseparável Rivotril, receitado, que me acompanha aonde for, mesmo que eu fique meses sem precisar dele) e a meditação, que para um hiperativo como eu pareceu quase impossível no começo, porém é possível, sim.

Sou bem sucedido no meu trabalho, estou casado há 7 anos, entendo finalmente meu lugar na sociedade, a ponto de poder falar abertamente sobre isso pra vocês. Tento controlar ao máximo meus excessos, porém estou, neste exato momento da vida, em um regime ferrenho por alguns diversos quilos que ganhei na pandemia . Porque muitos de nós, ansiosos, temos o péssimo hábito de descontar nossas frustrações na comida.  Isso é para vocês entenderem o quanto a linha é tênue e nossa atenção precisa ser redobrada. 

No entanto, pra finalizar, quero dizer que é possível ser absolutamente feliz com esta doença. O primeiro passo é dar nome aos bois. Ansiedade é sim uma doença que afeta milhões de pessoas no mundo todo, cujos sintomas podem ser tratados, mas não existe cura. E que dias nebulosos virão, porém esta é uma realidade da existência de todos os seres humanos: ninguém é feliz o tempo todo. Procurem ajuda, aprendam a lidar com os gatilhos, façam terapia, escrevam textos como este! Pois, se há algo que eu aprendi, desde os meus tempos de conversa com meus amigos, é que exemplos ajudam e que ninguém precisa passar por nada sozinho. Juntos, o fardo é menor. 


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Carlos Stefano 

Acredito piamente que, sempre que eu puder dizer ou fazer algo para mudar o dia, o ano, a vida de alguém, eu faço, sem pestanejar. Sou apaixonado por relações humanas e suas ramificações, portanto compartilhar minhas experiências une estas duas aptidões, em um único objetivo: o Bem do Estar.

Carlos Stefano

Paulista de família mineiro-italiana, casado com o Neto há 7 anos, pai de uma border collie chamada Claire, gerente comercial, decorador, aspirante a escritor, violeiro de barzinho amador, desenhista amador, hiperativo e ansioso assumido.

Acredito piamente que, sempre que eu puder dizer ou fazer algo para mudar o dia, o ano, a vida de alguém, eu faço, sem pestanejar. Sou apaixonado por relações humanas e suas ramificações, portanto compartilhar minhas experiências une estas duas aptidões, em um único objetivo: o Bem do Estar. 

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