Mulheres no mercado de trabalho

Inspirada por mulheres maravilhosas, que participaram da campanha “Ser Mulher - a saúde da mente delas”, espero poder, humildemente (como começa a meditação de Carol_Rahal), trazer uma reflexão,  para além das mulheres no mercado de trabalho. Afinal, como diz Elisa Santos, na entrevista Ser Mulher na quebrada, uma das qualidades femininas é essa sensibilidade de enxergar e ir além.

Espero poder aqui, também,  oferecer um compilado de referências, não só da campanha, mas de mulheres incríveis,  fazendo a diferença nas posições de liderança, que ocupam globalmente.

Que estas palavras possam chegar, também,  a muitos homens, acolhendo-os como aliados fundamentais,  na peleja diária pela equidade de gênero. Vamos juntos?

Foto: Freepik

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Não tem como falar sobre mulheres, no mercado de trabalho, sem falar sobre protagonismo feminino e sobre escolhas. Um universo se abre diante de nós,  quando escutamos Daniela Cais falar sobre o tema em um dos episódios,  no nosso podcast.

Daniela fala que se tornar pessoa, ser humano, mulher é se tornar quem a gente é. Poder escolher o nosso caminho individual, carregando o nosso próprio peso, aceitando as nossas próprias características, é um ato de coragem e resiliência diante de tantos padrões, que viver em sociedade nos impõe,  para que possamos ser vistas, aceitas e reconhecidas.

No entanto, é quando nos tornamos nós mesmas e aprendemos que as escolhas sobre o nosso corpo e a nossa vida são nossas, que nos tornamos protagonistas da nossa própria história. Parece simples e óbvio, mas para quem não encontrou espaço para dizer o que pensa sem ser interrompida, para sonhar o que quisesse sem ser inadequada, talvez acreditar em si, em seu potencial e capacidade, não seja tão fácil assim.

Ler a respeito, assistir e escutar mulheres poderosas, dentro do universo corporativo, por exemplo, ainda soa como algo extraordinário. E é. As mulheres que chegaram até a cadeira número um, como relata Rachel Maia - uma das CEO’s (Chief Executive Officer) mais influentes do Brasil - em seu livro “Como cheguei até a cadeira número um”, tiveram que enfrentar muito mais obstáculos e preconceitos, do que os homens. No caso de Rachel, essa estatística se multiplica,  por ser uma mulher negra, de 1.83m, criada na periferia de São Paulo.

Contra todas essas estatísticas, Rachel ainda esbanja generosidade e compromisso com a formação de pessoas, compartilhando o seu espaço, preparando as futuras gerações para ocuparem, inclusive, esse lugar que conquistou, seja como líder empresarial, seja como mentora de mulheres empreendedoras. 

Que forma de existir é essa de que o mundo tanto precisa e que a mulher incorpora com naturalidade?

É uma forma de agir e pensar, independente de estilo e características individuais, com a qual se constrói um mundo melhor,  não só para uma classe social, uma raça, um gênero,  mas também  para todos.

Durante a pandemia, por exemplo, temos exemplos positivos de lideranças femininas, respondendo com abertura, rapidez e transparência ao cenário complexo,  que estamos vivendo hoje. Dentre os cinco países com melhor resposta à COVID-19, três desses países são governados por mulheres - Nova Zelândia (Jacinda Ardern), Finlândia (Sanna Marin) e Noruega (Erna Solberg). Sanna, vale ressaltar, a primeira-ministra mais jovem da história aos 34 anos, é filha de duas mães. Ela conta como ter sido criada em uma família LGBTQ+ a influenciou positivamente: “Para mim, as pessoas sempre foram iguais. Não é uma questão de opinião. Essa é a base de tudo.”
Quando a gente fala em mulheres, no mercado de trabalho, é como se nós não estivéssemos participando da economia,  desde sempre. Kate Raworth, economista e autora do livro “Economia Donut”, explica como as métricas, que pautam a nossa economia, como é o caso do PIB (Produto Interno Bruto) - número usado para medir o crescimento econômico de um país - desconsideram o impacto ambiental das nossas atividades, os limites de crescimento do planeta, o trabalho de cuidado não remunerado e a desigualdade social.


Economia do cuidado

Pensando, então, no enquadramento das mulheres dentro do mercado de trabalho, vale olhar para a economia do cuidado.

O trabalho de cuidado é o que torna todos os outros trabalhos possíveis e engloba, tanto o trabalho de cuidado remunerado,  quanto o  não remunerado. Cuidar de uma criança,  ou de uma pessoa doente, assim como cozinhar e limpar, são trabalhos de cuidado e, em sua maioria, realizados por mulheres ou meninas, muitas vezes de partes marginalizadas da população. No ambiente doméstico, além de não ser remunerado, esse trabalho passa despercebido. Quando terceirizado, é mal pago.

Além disso, a quantidade de tempo, que as mulheres gastam com o cuidado não remunerado, em comparação ao dos homens, tem profundo impacto na desigualdade econômica entre gêneros.

Daí a importância de começarmos a valorizar e a considerar o trabalho do cuidado, como parte fundamental e, absolutamente, digna da nossa economia. A maioria dos trabalhos realizados por mulheres, que vivem na quebrada,  se enquadra dentro dessa categoria, ainda crescendo e se transformando, com outro movimento que ganha força, o empreendedorismo negro, liderado por Adriana Barbosa, CEO da PretaHub e fundadora da Feira Preta.

 

Honremos essas mulheres - empreendedoras, guerreiras, chefes de família - que nos sustentam como sociedade.

O futuro é feminino por essa e tantas outras razões. A terra, que os indígenas tão sabiamente chamam de mãe, está nos intimando - através das mudanças climáticas, da pandemia, das enchentes e das queimadas - a mudar a forma como nos relacionamos com uma palavrinha muito perseguida no mercado de trabalho, a “produtividade”.

Continua fechando a conta,  cobrando quase 100% de produtividade,  enquanto estivermos acordadas e acordados?

100% de produtividade está não só adoecendo a terra, mas também as nossas mentes.

Maria Barreto, em uma de nossas entrevistas sobre ser mulher moderna, fala sobre a natureza cíclica da mulher - que é também a da terra e a do homem - e sobre a importância da pausa.

Chama-se  ‘puerpério’ essa pausa que é quando o nosso corpo - a relação mais próxima e imediata com a natureza - nos pede recolhimento e descanso, antes de entrarmos em outro ciclo de criação e expansão.

E são nesses momentos de contato com a gente mesma, que encontramos espaço para reflexão, o que, por si só como hábito, traz visão, calma e discernimento para os nossos próximos passos. Boas decisões são tomadas com uma mente sadia, livre de saturação. Com espaço para a tomada de decisões mais seguras, gastamos menos energia com a dúvida, o medo ou a procrastinação.

Cá estamos tendo que lidar com o isolamento e com uma pausa forçada mundial, para, quem sabe,  aprendermos a existir em outro ritmo, talvez mais sincrônico e respeitoso com a natureza, naquele em que se considera a valorização da vida, de forma interdependente, acima de todos os outros interesses e através do qual podemos sim - mais colaborando do que competindo - construir essa casa que seja melhor para todos os seres vivos.

O palco é de vocês, mulheres.

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Paula Neves

Uma cidadã do mundo, amante das artes e eterna buscadora da verdade. Bailarina, desde criança encontrou na dança a espinha dorsal de como se expressa no mundo. A partir daí, em seu caminho já foi atriz, publicou um livro infantil, trabalhou com relações comunitárias em grandes corporações e com inovação social em uma ong de design. 

Paula Neves

Paula é uma cidadã do mundo, amante das artes e eterna buscadora da verdade. Bailarina, desde criança encontrou na dança a espinha dorsal de como se expressa no mundo. A partir daí, em seu caminho já foi atriz, publicou um livro infantil, trabalhou com relações comunitárias em grandes corporações e com inovação social em uma ong de design. Paula não acredita em rótulos e em carreiras que duram a vida toda. Ela acredita na mudança como permanente fonte de aprendizado e na coragem como força motriz que nos impulsiona a experimentar o novo, a sair da nossa zona de conforto e a nos transformarmos.

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