Ter o ser ou ser
Ser e ter são dois modos de existência.
Em uma sociedade moderna onde bens, desejos e uma busca incansável para alcançar poder são ensinados como padrão de vida feliz, não se pode afirmar que um padrão tão precário seja próspero, em um todo. A existência baseada em ter, quando ocorre à perda, o sentimento de competição se confronta com uma derrota e a derrota se resume a uma perda material, ou seja, a impossibilidade de não ter mais poder, promovendo insegurança e medo. A metáfora ainda vai além, quando se confronta com um problema, doença ou preocupação a expressão utilizada majoritariamente são as de “tenho um problema, tenho uma doença, tenho uma preocupação”, e assim em diante, logo, observar que se atrela ao indivíduo o sentimento de posse. Esse sentimento de posse traz uma linguagem subjetiva que está inerente a possuir e não a própria experiência.
A construção dessa sociedade econômica verbaliza: o que é bom para o crescimento desse sistema material?
- o sussurro interno da existência responde: o que traz plenitude para o ser humano?
Observando o crescimento de um sistema econômico nos deparamos em sua maioria com a ação de consumir. Essa ação de consumir traz liberdade da ansiedade por satisfação imediata, e própria procura por essa sensação cria um ciclo vicioso. Uma corrida do ego a ser percorrido pela imagem de segurança, conforto e status. Somos educados para esse sucesso, e vamos cegos em uma ética da estética.
Em busca do resultado é esquecida a motivação, saber o verdadeiro valor dos objetos, dos desejos e saber o que ter. Fato que, a importância de ter o mínimo substancial a vida é qualidade primordial e saber o que você precisa não é somente possuir conhecimento e, sim, sabedoria. Na balança da harmonia de ter e ser na vida percorre a descoberta da transitoriedade, e a busca para o que além de ter pode ser.
Quando um indivíduo decide ir além da satisfação material e observar a ti como fonte infinita de prosperidade, notará que faz a morada do valor espiritual da razão. Para ser o criador de sua realidade é um caminho árduo, porém revelador. No final, o medo de não ter e, por isso haver o sofrimento pela identificação do que somos e temos, abre espaço para um caráter moral além do pré-determinado por uma sociedade. Sendo a moral espécie da ética, pode-se valer de mudanças de um velho paradigma para adaptação de um novo.
O modo operante de ser não atua em eliminar os desejos e viver fora da realidade que está inserido (o desejo também é fonte necessária de motivação, o que seria de nós sem deixar que as expectativas nos criassem?) e, sim, emancipar o medo da escassez pela motivação da abundância. Troca-se a competição por cooperação.
Assim, ter o ser ou ser é o novo paradigma. Atuar consciente sobre o consumo, respeitar os limites da natureza que oriunda nossa fonte de vida, descaracterizar a competição como único meio ao qual se resulta êxito, torna-se um ser que tem e sabe a dimensão de ser e ter, polarizar os distintos em uma única existência.
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Professora de Hatha Yoga e ministra meditações. Sua formação abrange Terapias Integrativas (técnicas de massoterapia oriental, reiki e outras ferramentas de auxílio a integralidade do ser) e Psicanálise.