Cuidado com as feridas emocionais deixadas pela pandemia

O ano de 2020 foi sem dúvida traumático para muitas pessoas. Mas o que queremos dizer exatamente com a palavra trauma?

Foto: Mulyadi / Unsplash

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Ela se origina do grego “traûma”, traumatos, que significa “ferida”, “dano”. Assim, sofremos um trauma quando cortamos nossa mão ou quando batemos o braço em algum lugar, por exemplo. Às vezes esse trauma pode aos poucos melhorar, cicatrizar, ao ponto em que nem nos lembremos mais de que um dia cortamos ou batemos o braço. Mas outras vezes, algumas feridas demoram a fechar, podem infeccionar, ou ainda deixarem para sempre uma grande cicatriz. Da mesma forma ocorre com os traumas mentais, as feridas emocionais.

O trauma psicológico pode ocorrer quando alguém vivencia uma situação que entende ser de alto risco e ameaça de morte ou de injúria corporal grave a si ou a terceiros.

Dessa forma, uma coisa importante a respeito do trauma é que ele é pessoal, subjetivo e individual. Ou seja, o surgimento do trauma depende das características pessoais de cada indivíduo: o que não é um trauma para mim pode ser traumático para você!

Quando um trauma mental não é bem resolvido ou bem “cicatrizado” podemos observar possíveis complicações à saúde mental e até mesmo o desenvolvimento de um transtorno mental, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Este transtorno pode ser identificado quando uma pessoa desenvolve os seguintes sintomas, após sofrer um trauma emocional: 

  1. Estado de hipervigilância, estando sempre alerta, como se o trauma pudesse ocorrer novamente a qualquer momento; 

  2. Permanece grande parte do tempo recordando-se do ocorrido e revivenciando o trauma como em flashbacks (que são sensações, emoções, pensamentos e lembranças que retornam de forma abrupta e na mesma intensidade como quando ocorreram no momento do trauma, geralmente após algum estímulo desencadeador), pesadelos, pensamentos intrusivos (ideias relacionadas ao trauma que invadem nossa mente de forma desagradável e repetitiva); 

  3. Comportamento evitativo, fazendo com que o indivíduo evite situações, pessoas e ambientes que possam lhe fazer lembrar do momento traumático. 

Essas alterações emocionais podem levar a grandes prejuízos como dificuldade de sair de casa, dificuldade de se manter no trabalho, variações de humor, crises de ansiedade, isolamento social, preocupações excessivas, sensação constante de medo, entre outras tantas complicações. 

Durante a pandemia da COVID-19 muitas pessoas vêm apresentando sinais de TEPT devido às situações enfrentadas potencialmente traumáticas como a perda súbita de um familiar, a demissão do emprego associado a dificuldades financeiras, a sobrevivência a um leito de UTI após respirar com ajuda de aparelhos, o isolamento social prolongado, o medo de contaminar pessoas próximas, entre outros momentos difíceis e lamentáveis. Um estudo realizado na China em Março/2020 em uma de suas regiões mais acometidas no início da pandemia revelou um aumento de quase duas vezes nos casos de TEPT (de 3,7% para 7%) após 1 mês do pior momento da pandemia até então. (Prevalence and predictors of PTSS during COVID-19 outbreak in China hardest-hit areas: Gender differences matter). 
Pode-se perceber que as pessoas estão em geral mais angustiadas em relação ao futuro, mais temerárias em relação a sua saúde e menos esperançosas e felizes. Como também observado pela pesquisa Saúde da Mente e Isolamento Social. Num contexto da pandemia como o que estamos vivendo é muito importante identificarmos em nós mesmos e em nossa comunidade os sinais do TEPT para rapidamente buscarmos ajuda profissional. A demora no diagnóstico pode agravar o quadro aumentando complicações, comorbidades e refratariedade (diminuição da resposta aos tratamentos).

O tratamento é individualizado e, em geral, conta com psicoterapia e uso de medicamentos para controle de sintomas como ansiedade, depressão e ataques de pânico. O apoio de familiares e amigos é muito importante, assim como a criação de um ambiente que transmita acolhimento e segurança. Para grande parte dos casos de TEPT a recuperação é muito boa, com bom retorno à funcionalidade e capacidades anteriormente desempenhadas.

Neste momento de pandemia, mais do que nunca, é muito importante buscarmos equilíbrio e harmonia para nós e nossa comunidade, estarmos unidos e mantermos nossa saúde mental forte para ajudar a construir um ano excelente, cheio de vitórias e superações. Bom 2021 a todos!


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Dr Ricardo Jonathan Feldman

Psiquiatra no Centro Feldman de Saúde, fundada em 2012, no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), no Residencial Israelita Albert Einstein e professor na Pós-Graduação de Psiquiatria do HIAE, atua no diagnóstico, tratamento e ensino dos diversos transtornos psiquiátricos, focando na melhora da qualidade de vida, da sensação de bem-estar e do equilíbrio físico, mental, social e espiritual.

Dr Ricardo Jonathan Feldman

Psiquiatra no Centro Feldman de Saúde, fundada em 2012, no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), no Residencial Israelita Albert Einstein e professor na Pós-Graduação de Psiquiatria do HIAE, atua no diagnóstico, tratamento e ensino dos diversos transtornos psiquiátricos, focando na melhora da qualidade de vida, da sensação de bem-estar e do equilíbrio físico, mental, social e espiritual.

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