O problema de ser feliz

Muitos animais têm pensamentos, mas os humanos são únicos porque podemos ter pensamentos sobre nossos pensamentos. Podemos nos sentir contentes em nos sentir felizes. Ou também podemos nos sentir desapontados por estarmos deprimidos. 

Foto: Laurenz Kleinheider / Unsplash

Foto: Laurenz Kleinheider / Unsplash

Desenvolvemos essa habilidade porque a maioria das soluções de nossos problemas começa com o pensamento. Nós criamos estratégias, avaliamos e ruminamos. Então, é natural supor que qualquer mau humor possa ser resolvido com uma boa estratégia mental, certo? Bom, como podemos ver... nem tanto.

 Os humanos são programados para serem grandes pensadores, mas não evoluímos para ser felizes a cada segundo todos os dias. No entanto, tudo sobre nossa cultura afirma que merecemos a felicidade, que é um direito humano básico. Que devemos otimizar nossa felicidade ao máximo, lendo os livros certos, indo à terapia e criando planos que acompanhem nosso estilo de vida.

Nossa cultura baseada na felicidade está em contraste direto com a realidade de que as pessoas que pensam mais sobre sua infelicidade e em como melhorar isso têm maior probabilidade de sofrer de depressão. Se você é uma pessoa do tipo que adora lidar com problemas e superá-los, então você pode, facilmente, desanimar quando não consegue encontrar uma solução para o seu estado de espírito. Esse desânimo, por sua vez, pode aumentar os sintomas depressivos e levar a problemas de saúde da mente mais sérios e a longo prazo.

Essa realidade desafia o mito de que todas as pessoas que estão deprimidas, simplesmente, não tem motivação. Muitas vezes, elas são incrivelmente motivadas, mas também são muito duras com elas mesmas quando seus objetivos não estão funcionando ou suas expectativas não são atendidas. Aprendemos que seguir os passos certos nos trará felicidade. E, quando temos dificuldades em chegar lá, damos alguns passos para trás. Nós nos tornamos infelizes ao definir a felicidade como o objetivo final.

Então, qual deve ser o objetivo final? Ninguém quer se sentir mal-humorado, ansioso ou triste. Mas, essas emoções são parte do pacote humano.

Ser capaz de perceber emoções negativas e aceitá-las como parte de nossa humanidade é uma habilidade poderosa.

Quando começarmos a ver essas emoções como parte da condição humana, sentiremos menos da autocensura e da negatividade que podem transformar um mau humor em algo mais sério, como a depressão. Nossos cérebros podem mudar para um estado de espírito mais leve, mas sem estagnar.

Isso não significa que não haja soluções para um estado deprimido. Certamente, aqueles que sofrem de depressão devem procurar ajuda e ter esperança. O que isto significa é apenas que podemos tentar nos acalmar quando somos tentados a racionalizar um mau humor em um mais feliz.  Freqüentemente, os exercícios que funcionam melhor são aqueles que nos ensinam a ficar curiosos sobre nossos pensamentos e sentimentos negativos, em vez de tentar apagá-los por pura força de vontade. Algumas dessas técnicas podem ser encontradas na terapia cognitiva-comportamental ou nas atividades de atenção plena.

Para os solucionadores de problemas, aqui está uma mudança que você pode começar a fazer hoje. É um exercício para observar um humor negativo. 

  1. Primeiro, encontre um lugar confortável para se sentar em linha reta. Certifique-se de que seus pés estão no chão. 

  2. Sente-se em silêncio por um tempo, prestando atenção à sua respiração por alguns minutos. 

  3. Uma vez que você pegou o jeito disso, observe quais pensamentos e reações estão flutuando em sua mente. Pense neles como pequenos barcos flutuando no rio. Não tente parar os pensamentos ou removê-los, apenas sente-se na margem e observe-os. Talvez barcas de preocupações passem. Ou jangadas repletas de autocrítica.

Quanto mais você notar o tráfego do rio em sua mente sem julgar ou forçar-se a ser mais positivo, menos esses pensamentos e emoções irão afetá-lo ao longo do tempo. Você pode aceitar que não está feliz no momento e, ao não refletir sobre essa realidade, você se prepara para um humor melhor a longo prazo.

Quanto mais confortável pudermos estar nesses momentos em que nosso estado de espírito está desconfortável, mais abraçamos nossa humanidade. A auto-compaixão durante os “momentos baixos” não é fácil, mas é mais eficaz do que se sentir mal por não estar feliz. Você nunca vai ganhar uma briga com você mesmo, certo? Então comece a prestar atenção, comece a ser gentil consigo mesmo e deixe a felicidade encontrá-lo ao longo do caminho.

 
***

Artigo originalmente publicado no Psycom.net, livremente traduzido e adaptado por Mariana França.

Instituto Bem do Estar

Queremos gerar conhecimento aplicável sobre a saúde da mente


https://www.bemdoestar.org/
Anterior
Anterior

Quando foi a última vez que alguém fez você se sentir visto?

Próximo
Próximo

A saúde mental do indivíduo no coletivo