Acolhendo os sentimentos pelo despertar da criatividade na adolescência

A adolescência é um período da vida de muitas descobertas, inquietações, contestações e muita energia. Acredito que a maioria das configurações estruturais e arquitetônicas das escolas ainda não dão conta de acompanhar a efervescência deste momento, pelo contrário, elas até contém a evasão desta energia pulsante, os colocando em cadeiras olhando para uma lousa ou projeção de slides. Sinto que as escolas, claro que não dá para generalizar, não dão o devido espaço de escuta para os alunos, uma escuta verdadeira sobre as reais necessidades deles, porque, no final das contas, é uma empresa, e como toda empresa, preza por algumas estruturas comerciais com seus clientes, os pais. 

Foto: Joanna Kosinska / Unsplash

Foto: Joanna Kosinska / Unsplash

Esta estrutura engessada afeta diretamente a saúde mental dos jovens, porque se não há um espaço acolhedor e inovador, que dialogue e responda a esta nova geração de estudantes, o ensino fica mecânico e sem sentido, ao invés de um ambiente de conhecimento que abarque as emoções junto com as matérias curriculares, como algumas iniciativas que vemos em algumas escolas que adotaram o “Projeto de Vida” e projetos a partir de interesses pessoais do aluno, fortalecendo o seu protagonismo, sua curiosidade, sua autonomia de estudo e pesquisa e sua auto estima. 


Arte e educação

A arte, na minha adolescência, foi fundamental para a minha construção como indivíduo social e criativo, por isso, eu levo muito à sério a inserção das diversas manifestações artísticas dentro das minhas aulas e sempre procurei criar parcerias multidisciplinares dentro da escola a fim de conectar o conhecimento com diversas habilidades tanto cognitivas quanto manuais, promovendo uma aprendizagem integral. Este movimento também me fez refletir muito meu papel como educadora, porque para despertar o lado criativo nos jovens, eu precisei antes despertar em mim, desconstruir ideias prontas e explorar zonas desconhecidas, experimentar, errar e acertar, e isso foi riquíssimo para o meu processo profissional e, principalmente, pessoal. 


A fotografia aliada ao autoconhecimento

Foi e é fascinante trabalhar com os adolescentes por meio da fotografia, porque a ação fotográfica requer prática, requer trabalhar com o universo lúdico, requer explorar o cotidiano deles de uma forma totalmente inusitada, adentrando questões mais profundas que esbarram no autoconhecimento e no senso coletivo. 

O universo dos  jovens é dinâmico, cheio de possibilidades e novas descobertas, e a fotografia dialoga diretamente com estes campos que abraçam e potencializam a experiência, a diversão e o conhecimento. Por isso eu acho a fotografia uma ferramenta artística e pedagógica completa para este público, pois além de estar disponível em praticamente todos os celulares e de fácil acesso, ela se torna uma verdadeira ponte entre o pensar e o agir diante das coisas que eles vivem e sentem. 

A fotografia é um instrumento poderoso de interpretação do mundo, a câmera nos dá a possibilidade de expressar o COMO OLHAMOS os acontecimentos à nossa volta, o COMO PODEMOS ESTIMULAR a nossa imaginação criando narrativas ficcionais e poéticas acerca de temas que nos inquietam e nos transpassam, e COMO PERCEBEMOS nosso corpo e mente presentes no ato de realizar as imagens. 

Estes três pilares são pontos de extrema importância tanto para o desenvolvimento de habilidades criativas e socioemocionais nos jovens quanto para o aprimoramento de seu lado sensível. 

Ainda há uma lacuna no sistema de ensino, que aos poucos vêm sendo discutida, que não ensina o aluno a ler imagens, somente palavras. Adquirir uma cultura visual durante toda a vida e aprendizado escolar, principalmente numa sociedade cada vez mais pautada por imagens, é fundamental para que tenhamos jovens com senso crítico apurado, compreendendo mais profundamente o universo visual que o circunda e adquirindo mais autonomia em suas escolhas. 



Assista também:

Confira a participação da Carol na campanha de conscientização “Ser Mulher - a saúde da mente delas”, onde ela também fala da experiência com as adolescentes: 




***

Carol Rahal

Artista, educadora e fotógrafa. Sou uma aprendiz fascinada pelos encontros e trocas de experiências com as pessoas. Sou também um labirinto que se revela aos poucos à medida que se vai adentrando nele. Desde pequena sempre gostei de inventar histórias, criar personagens e brincar de professora. Foi no teatro que descobri minhas habilidades artísticas, mas foi na sala de aula que  compreendi a potência do conhecimento. Na busca de explorar meu olhar criativo, me apaixonei pela fotografia e fiz dela minha ferramenta de transformação.

Carol Rahal

Artista, educadora e fotógrafa. Sou uma aprendiz fascinada pelos encontros e trocas de experiências com as pessoas. Sou também um labirinto que se revela aos poucos à medida que se vai adentrando nele. Desde pequena sempre gostei de inventar histórias, criar personagens e brincar de professora. Foi no teatro que descobri minhas habilidades artísticas, mas foi na sala de aula que compreendi a potência do conhecimento. Na busca de explorar meu olhar criativo, me apaixonei pela fotografia e fiz dela minha ferramenta de transformação.

http://www.carolrahal.com
Anterior
Anterior

“Você não está sozinho” - um livro e uma parceria

Próximo
Próximo

Estars no Trabalho: Conversas sobre saúde da mente