Ecos do Estar: Arte da paz, por Paula Neves
Pequenino prólogo
Existe um desafio grande de autocontrole quando se é uma pessoa sensível.
Luana tinha uma percepção muito aguçada do que era invisível ou do que não era óbvio de se ver. Ela era poeta. Artistas têm esse músculo da sensibilidade sarado, forte, forte, às vezes tão forte que parece enlouquecer.
Nesse momento onde nos encontramos todas e todos lidando com fortes emoções, podemos experimentar ou nos relacionar como se sente no mundo interno das pessoas sensíveis.
Luana chamava a sua sensibilidade de vulcão. Há quem a chame de fogo, fogueira, explosão, onda, turbilhão, maremoto, montanha russa, precipício, tufão. Se não queima, afoga, se não dá vertigem, acelera o coração. Vai pro corpo, espanta a razão e nos deixa expostos a tudo o que nos assombra.
Loucura? Mas o que é de fato estar louco?
Luana tinha uma mania. Quando sentia o vulcão latejando forte dentro de si, ela ficava vidrada na catástrofe que se configurava em sua mente. Todas as alternativas a levavam ao sofrimento de ser atropelada por lava ardente.
Acontece que essa mania criativa de imaginar sua transfiguração acontecia porque, no fundo, ela sabia que poderia ressurgir das cinzas. No fundo ela sabia que era ela mesma que precisava se levantar do chão. Ela imaginava em sua mente e sentia em seu coração que a força que precisaria para ser Luana era dessa natureza de morte e renascimento. Desconhecendo os caminhos da sua mente, não entendia porque precisava sofrer tanto para encontrar sua própria força, sua própria opinião, sua própria movimentação.
Parêntesis: era dessa mesma fonte de onde surgiam as suas inspirações mais ferozes e potentes. Até então era como ela tinha experimentado viver, pelo menos. Além dos caminhos da sua mente, desconhecia também outros caminhos. Outras possibilidades de sentir e viver.
Sensibilidade parece remeter à fraqueza. Equivocada percepção. Vulnerabilidade também parece remeter a uma exposição desnecessária, exagerada. Equivocada também esta percepção.
De alguma forma, dar conta de um sentir que vem em dobro, multiplicado e intenso, pede corpo e mente ainda mais fortes. Não para fugir, não para construir muros, não para bloquear, restringir, ignorar, deletar, mas para conseguir deixar passar.
Quando Luana se deu conta disso, diminuiu em seu hábito de acreditar que tudo que sentia de alguma forma a definia. Não, dessa vez, não mais. Ao mesmo tempo, adquiriu respeito pela forma vulnerável com que se comunicava com o mundo e disse não às invasões alheias em busca de afirmação em cima do que acreditavam ser uma fraqueza.
O vulcão vibrava, latejava e Luana era mais forte porque passou a conseguir tempo e espaço para escolher o que fazer com aquela lava ardente que erupcionava, indo sempre em direção ao seu desaparecimento.
Continua…
***
Paula Neves
Uma cidadã do mundo, amante das artes e eterna buscadora da verdade. Bailarina, desde criança encontrou na dança a espinha dorsal de como se expressa no mundo. A partir daí, em seu caminho já foi atriz, publicou um livro infantil, trabalhou com relações comunitárias em grandes corporações e com inovação social em uma ong de design.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.