Ecos do Estar: Um café? por Paula Neves
Ela abriu a janela para uma vista deslumbrante. Pouco se recordava do que aconteceu no dia anterior. Talvez um sonho fosse o que tivesse acontecido.
Sua cama estava vazia, ele não estava mais lá havia já alguns meses. Como se despedir? Como superar a dor de perder alguém que se ama e conquistar a glória de estar só?
Eu não aprendi a ser só, pensava cansada da sua jornada, cansada dos seus próprios pensamentos, quis desistir. Olhou para a vista novamente, se aproximou do guarda-corpo da varanda e olhou para o penhasco. Era tudo mato, era tudo canto de pássaro, era tudo flor e nada disso a encantava. Ela estava desmoronada, perdida, sem saber como seguir.
Seu telefone tocou. Era uma amiga da época da faculdade, sumida, não quis atender. A amiga insistiu e ela voltou da varanda para dentro da casa para atender.
- Alô?
- Sabrina! Parabéns, amiga. Muita saúde pra você! Como você está? Tenho pensado tanto em você. Muito cringe te ligar no seu aniversário? (Risos)
Sabrina esboçou um sorriso muito leve e logo fechou a cara ao se lembrar que era o seu aniversário. “Tinha me esquecido”, pensou.
- Obrigada, Lidiane. Quanto tempo. (Suspirou)
- Tá tudo bem, Sasá?
- Não tá tudo bem, não, Lidiane. Pra falar a verdade, eu nem tava lembrando que era o meu aniversário. Sei lá, depois que me separei do João as coisas ficaram meio embaralhadas na minha cabeça. Não sei muito bem o que fazer, nem o que pensar. Tô desanimada com tudo. É como se tivesse perdido uma referência. Me sinto perdida e só.
- Poxa, Sabrina. Sinto muito, não sabia…
- Desculpa a franqueza, Lidi, mas não tô legal, não. E tô cansada de fingir que tá tudo bem.
- Imagina. Que bom que eu liguei. Posso te ajudar de alguma forma?
- Não sei, Lidi, não sei, não. Só consigo pensar no cansaço que estou dessa vida sem sentido.
- Posso ir aí tomar um café com você?
- Tô sem tomar banho há dias, Lidiane. A casa tá uma bagunça…
- Qual o seu endereço? Tô indo.
Sabrina passou o endereço da sua casa para a amiga e soltou o telefone no chão. Caminhou novamente em direção à varanda, ao penhasco, à vista deslumbrante e ficou hipnotizada pelo balanço das árvores com o vento que estava forte. As árvores mexiam muito e ao fundo o horizonte permanecia estático. Ela não sentia nada, nem que bom, nem que ruim, apenas vazio sem sentido, como se não estivesse compreendendo porque estava ali.
Olhou novamente para baixo e mais uma vez pensou em desistir.
Por que é tão difícil existir sem a presença do outro? Por que quando ele não está eu sinto que não existo? E caiu em prantos chorando no chão.
(Tempo)
Lidiane tocou a campainha e Sabrina demorou para se levantar e ir até à porta atender. Recebeu Lidiane em um abraço e ali ficou sem se mexer.
De repente Sabrina começou a perceber algo que não sentia há dias, o batimento do seu próprio coração encostado no peito da amiga e a sua leve respiração. Sentir o coração a fez lembrar da sua dor, da sua perda, mas logo sentiu também um quentinho de outro peito bem perto do seu e um pequeno conforto a acalmou. Conseguiu respirar profundo, olhar para a amiga nos olhos e dizer: vamos fazer esse café?
Assim, Sabrina recomeçou.
***
Paula Neves
Uma cidadã do mundo, amante das artes e eterna buscadora da verdade. Bailarina, desde criança encontrou na dança a espinha dorsal de como se expressa no mundo. A partir daí, em seu caminho já foi atriz, publicou um livro infantil, trabalhou com relações comunitárias em grandes corporações e com inovação social em uma ong de design.
Chegou uma notificação no celular de Laura! Ela tinha dado match com Lucas.
Desbloqueou o telefone e foi relembrar quem era ele: “ai, o moço bonito dos sonhos, praticamente um príncipe da Disney.”