A arte de comunicar-se 

Vivemos na era da comunicação, cada vez mais tecnologias inovadoras são criadas para facilitar a conexão entre as pessoas, por mais distantes que possam estar em termos de geolocalização. Uma notícia que acontece num país asiático se espalha ao redor do mundo em questão de minutos e pode ser acompanhada ao vivo, até mesmo aqui no Brasil. Grande parte da população hoje, inclusive crianças, possuem smartphones que permitem fazer chamadas de vídeo para amigos e parentes em qualquer lugar do mundo – aliás, essa ferramenta foi amplamente utilizada nessa época de pandemia e isolamento social. 

Contudo, apesar de termos diversas ferramentas para facilitar e agilizar a comunicação entre as pessoas, cada vez mais ouvimos relatos de pessoas sofrendo com depressão, ansiedade, entre tantos transtornos mentais. Além disso, diversos episódios de expressão agressiva têm tomado o lugar dos diálogos e troca de ideias, não havendo mais espaço para a discordância e o respeito à opinião do outro. Esse cenário, tão contraditório a princípio, reflete em relacionamentos superficiais e pobres de conexão, bem como levam a sentimentos de angústia, culpa, ansiedade, depressão, medo, rejeição, insatisfação, infelicidade, frustração, solidão, vergonha, raiva e tantos mais.

Foto: Freepik

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Mas por que isso acontece se estamos na era da comunicação? 

Vejo que o ser humano tem se empenhado em criar tecnologias inovadoras para facilitar e agilizar os canais de comunicação entre as pessoas, entretanto, não parece se empenhar no mesmo grau para ampliar seu autoconhecimento, compreender seus sentimentos e necessidades, abrir-se para escutar os sentimentos e necessidades do outro e, a partir do diálogo honesto e empático, criar uma conexão genuína com o outro.

É preciso entender que não há tecnologia que possa ser criada capaz de substituir os sentimentos humanos e a conexão genuína que surge a partir da empatia, da compaixão e do amor.

Veja, todos os sentimentos mencionados anteriormente geram um desconforto, são sentimentos chamados, na linguagem popular, de “negativos”. Desde criança somos condicionados a reprimir os sentimentos “negativos” e esse comportamento tende a se intensificar na vida adulta, quando nos expomos a uma gama maior de diferentes ambientes e situações nas quais nos sentimos desconfortáveis, mas não expressamos nossos sentimentos por entendermos que isso será considerado uma fraqueza, não será bem interpretado, não será acolhido pelo outro – em outras palavras, sabemos que seremos julgados pelo outro e não queremos abrir espaço para essa vulnerabilidade.

Temos medo e vergonha de expor nossos sentimentos e nos sentimos culpados por senti-los.

Em outras palavras, aprendemos a não dar atenção aos sentimentos negativos, a escondê-los e a rapidamente buscar substituí-los por outro sentimento que traga mais conforto – por exemplo, quem nunca ouviu alguém dizer “não chora, você é forte, isso passa logo!”? Apesar da intenção, muitas vezes, ser boa, no sentido de ajudar a pessoa em sofrimento a sair daquele lugar de dor, não há espaço para o acolhimento, não há permissão para o sentir, obriga-se a pessoa a varrer o sentimento que está vivo dentro dela para debaixo do tapete, como se fosse errado aquele sentir. A partir disso, novos sentimentos “negativos” surgem, como a culpa e a vergonha. O que só faz aumentar ainda mais o sofrimento, a insatisfação, a rejeição, etc, ou seja, é um movimento destrutivo que se retroalimenta.

Após anos de censura e repressão de nossos sentimentos, de não acolhimento, de não entendimento sobre esse sentir, resta dentro de cada um de nós um acúmulo de insatisfações, de rejeições, de dor, que já nem sabemos mais onde e porque começou. Desse emaranhado totalmente inconsciente e desconhecido, ficamos desconectados de nós mesmos e não há suporte algum para que as pessoas consigam acolher e compreender os sentimentos do outro. 

Não há espaço para criar conexão com o outro quando estou perdida sem qualquer conexão comigo mesma.

Não é possível esperar uma sociedade pacífica e empática, quando não há espaço para o sentir, para o acolhimento de todos os sentimentos, sem julgamento entre certo e errado, bem ou mal. Uma sociedade que não respeita o sentir de cada indivíduo, não conseguirá se comunicar jamais!

O único meio para afastarmos esse sofrimento, que é ao mesmo tempo individual e coletivo, é a jornada de autoconhecimento. Ela nos leva por um caminho interior que nos permitirá conquistar uma conexão genuína, primeiramente conosco e depois com o outro. Felizmente existem diversas portas que podemos abrir para iniciar essa jornada e a “comunicação não violenta” é uma delas.

Essa coluna pretende trazer textos sobre temas relacionados à comunicação não violenta e convidamos você a nos acompanhar para que possamos, juntos, mergulhar nessa jornada de descoberta que apenas se inicia.


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Debora Andrade

Aprendiz da vida, em constante (des/re)construção, praticante de yoga, meditação e trekking, energizada pela natureza, interessada em temas relacionados ao autoconhecimento, gestão das emoções, relacionamentos interpessoais e integração do ser humano com a natureza. Multiplicadora da Comunicação Não Violenta e mediadora de conflitos com ênfase em mediação familiar. Dedico-me a projetos que envolvam a construção de conexões humanas por meio da CNV, da mediação de conflitos e outras práticas que estimulem a autoconexão.



Debora Andrade

Aprendiz da vida, em constante (des)construção, praticante de yoga, meditação e corrida, interessada em temas relacionados ao autoconhecimento, gestão das emoções e relacionamentos interpessoais. Acredito na vivência do ser humano em harmonia com a natureza. Estou cursando formação em Comunicação Não Violenta. Já atuei como advogada especialista em contratos no mercado corporativo por mais de 10 anos. Atualmente me dedico a projetos que envolvam a prática e disseminação da comunicação não violenta em prol de um mundo de paz.


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