Gordofobia: quando o peso rouba a voz

Quantos romances as mulheres gordas estrelam? Quantos filmes? Quantos apresentadores de TV são pessoas gordas? E modelos, quantas você conhece? Pessoas gordas são quase invisíveis em produções culturais e as poucas vezes em que aparecem são ligadas ao humor e humilhação, o eterno “gordo e engraçado”.  O corpo gordo parece alvo de piadas por onde passa, como se o tamanho do corpo anulasse o sujeito. 

Foto: i yunmai / Unsplash

Foto: i yunmai / Unsplash

Gordofobia é baseada no julgar alguém como inferior com base no tamanho do corpo. 

Em tempos de culto “fitness”, certamente o preconceito explícito ao corpo gordo aumentou. Esse é um preconceito socialmente aceito, travestido de elogio ou preocupação com a saúde. A pessoa com corpo gordo é excluída de muitas lojas de roupas com tamanhos que não lhes cabem, assim como muitos lugares parecem não “caber”, um eterno sofrimento de não se encaixar no mundo, diariamente. Não serão a maioria dos transtornos alimentares relacionados a gordofobia?

A gordura é rejeitada, encarada como sinal de doença, vista com asco, como defeito e quem é gordo seria alguém que escancara uma irresponsabilidade sobre si mesmo. É mais difícil conseguir um emprego quando se está gordo, como se isso pudesse comprometer a capacidade de trabalhar, assim como é mais difícil ir a qualquer consulta médica e ser ouvido em sua queixa, pois o assunto sempre será o peso. Não há um eu, alguém que fale, mas uma redução ao corpo gordo!

Um mito comum é a noção de que pessoas gordas não são saudáveis, enquanto magros são, apenas pelo peso, porém não é tão simples assim. Quem não faz coisas tidas como saudáveis é visto como uma pessoa ruim ou com moral negativa, porém, isso só acontece com quem tem um corpo gordo. Ninguém comenta ao ver alguém magro comendo “fast food”, mas e o gordo? 

Ser magro ou gordo são características físicas, não uma forma de elogio ou crítica. Ter um corpo gordo não está relacionado a capacidade intelectual, nem moral. 

A aceitação de pessoas gordas não significa defender gordura, nem alimentação excessiva, mas simplesmente empatia ao outro, tratando com cuidado, respeito e dignidade.

Infelizmente, a gordofobia é praticada em plena luz do dia e sem escrúpulos, com a mais absoluta impunidade e aceitação desta discriminação. E por que fazer isso com alguém?

Essa realidade é ainda mais cruel com as mulheres! Afinal, padrões de beleza são bem mais rígidos com elas, muitas vezes muito mais vistas pela forma do que conteúdo, o que é mais brando com homens. Assim, mulheres gordas estão sob dupla vulnerabilidade por serem gordas e por serem mulheres! 

As relações  sociais  demonstram,  explícita  ou implicitamente,  os  processos  de  rotulação e preconceitos como a gordofobia, então é seguir com novas reflexões e olhares sobre o tema e subjetividades. 

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Mariana Pavani

Psicóloga clínica, atuo em consultório particular em Campinas-SP. Fez especialização e cursos livres em psicanálise. Sempre gostou muito de ler e é curiosa, o que a levou a escrever alguns textos e criar blogs desde cedo. No início na clínica, escrever foi algo que a ajudou e ainda ajuda, pois a mantém estudando e além de facilitar a comunicação com pessoas sobre variados temas.  

Mariana Pavani

Sou psicóloga clínica e atuo em consultório particular em Campinas-SP. Fiz especialização e cursos livres em psicanálise. Atualmente participo de grupo de estudos sobre a relação das mulheres com o corpo e também estou cursando especialização em psicoterapia breve psicanalítica na UNICAMP.

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