Como usar a tecnologia sem prejudicar minha saúde da mente?
A tecnologia está presente em nossa vida em praticamente tudo: na escola, no trabalho, para o lazer, na comunicação, nas compras. É por meio dos meios tecnológicos que desempenhamos inúmeras atividades cotidianas. Mas, será que todos esses benefícios podem prejudicar de alguma maneira nossa saúde mental?
O processo da globalização da informação, a agilidade na aquisição das notícias, as diversas fontes para aprendizagem, métodos de precisão, são fenômenos fantásticos e possibilitam que o mundo esteja na palma de nossas mãos em poucos segundos. Entretanto, a urgência, a quantidade, a qualidade das informações geram um cenário de insegurança e de necessidade de consumo imediato, o que implica em prejuízo para nossa saúde mental.
Como podemos distinguir então entre os benefícios e os malefícios da tecnologia?
Será necessário compreender um pouco do contexto para respondermos a esta questão.
A aprendizagem, hoje em dia, acontece por meio da tecnologia, o que significa que alguns comportamentos são aprendidos de maneira mais fácil e mais rápida. Desde utilizar computadores, para auxiliar na alfabetização, até modelos de realidade virtual, para treinar processos cirúrgicos, a tecnologia pode facilitar muito o processo de aquisição de novas habilidades.
Neste processo incluímos diversos estímulos para aprimorar o aprendizado e as relações interpessoais. Entretanto, também, excluímos algumas questões importantes. Quando optamos por uma aula virtual, aproximamos pessoas em imensas distâncias, mas não temos o contato pessoal; quando trocamos mensagens, nos comunicamos com pessoas do outro lado do mundo, com isso, não podemos interpretar as dicas não verbais que ela emite.
Ao mesmo tempo que a tecnologia nos traz muitos benefícios, ela nos tira a oportunidade da compreensão das relações interpessoais. O contato visual, o tato, são habilidades primárias para o desenvolvimento da empatia, da sensibilidade ao outro.
Quando utilizamos a tecnologia para os relacionamentos interpessoais, não podemos desenvolver essas habilidades. E, então, vemos pessoas terminando relacionamentos afetivos por meio de mensagens, simplesmente, porque tem dificuldade de encarar o outro e falar sobre seus sentimentos.
A tecnologia veio para mudar nossa maneira de agir e nos relacionar. Mas o processo tecnológico – imediatismo, agilidade – não facilita as relações interpessoais. As pessoas estão sendo treinadas a lidar com o outro como se ele fosse, também, um computador. Mas pessoas tem um tempo diferente de resposta. É preciso aprendermos a nos frustrar para podemos aprender a nos relacionar e sermos felizes.
A tecnologia não ensina frustração, e esse é o grande mal para nossa saúde mental. Quando não aprendemos a nos frustrar, criamos uma expectativa tremenda sobre as coisas, e quando não ocorre o que desejamos, desenvolvemos diversos sintomas emocionais, chegando inclusive à depressão.
O grande mistério para o uso da tecnologia será conseguir separar entre os benefícios práticos que poderemos usufruir com a tecnologia, mas não permitir que ela substitua as relações necessárias aos seres humanos.
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Erika Scandalo
Especialista em Psicologia Clínica Comportamental, produz conteúdo sobre a vida e como aproveitá-la de diferentes formas. Acredita que a felicidade é consequência de uma visão proativa sobre as dificuldades. Ser feliz é mais um olhar sobre o que se é, do que ter tudo o que se quer.