Estar em movimento: Enraiza o pé no chão e voa para dentro
Ela adorava tudo o que era novo. Roupa nova, casa nova, amigos novos, palavra nova, um novo idioma, um novo esporte, ano novo, beijo novo. Na verdade, ela era apaixonada por mudança. E aprendeu a existir no mundo assim, motivada por esse sabor de novidade.
Quando foi ficando adulta, esse prazer pelo novo se tornou um vício e a vida complicou um pouco. Ela passou a ter a sensação de que não estava construindo nada e quanto mais o tempo passava mais difícil ficava simplesmente continuar qualquer coisa que fosse.
Seus relacionamentos amorosos não duravam muito. De igual maneira acontecia com os empregos que arranjava, pouco tempo passava e já havia uma causa suficientemente relevante para deixar mais este passar e mudar.
Teresa se alimentava da energia necessária para começar algo desconhecido. Ela sabia como começar, como conquistar o que queria. Depois de conquistar, de se adaptar ao que agora deixava de ser sonho, ela se perdia, se desmotivava, não encontrava mais sentido naquilo e desinvestia a sua energia.
Um dia, Teresa teve um sonho em que sentiu seu corpo sair do chão. Experimentou se locomover no ar e se afastou ainda mais do solo. Sim, Teresa voava. E como uma heroína voou direto para o céu, atravessando a atmosfera e se enxergando lá no espaço. Aquilo era o máximo.
Acordou e teve uma profunda sensação de que jamais encontraria o que estava buscando se a direção do seu vôo fosse sempre a perfeição. Vivenciar o novo era poder se extasiar com a possibilidade desse ideal. O trabalho perfeito, o relacionamento perfeito, a vida perfeita. Mas foi para isto mesmo que viemos aqui para este planeta?
E como faz para querer menos? Não consigo entender, Teresa dialogava com ela mesma. Se eu não almejo o ideal, o que estou almejando então? E o que faço com a minha imaginação que me leva a enxergar o máximo do espaço? Por quê voar, se não for para alto e longe? Qual é a graça?
Sim, Teresa, eu sei que você é capaz de ir muito longe com o poder da sua imaginação, mas experimenta enraizar o pé no chão e voar para dentro. Voar para dentro não significa querer menos. Voar para dentro não significa que é tudo sempre o mesmo.
E nessa aventura, quando você se deparar com algo que não seja tão belo quanto as estrelas do espaço, se pergunte: o que preciso aprender de novo agora para lidar com esta situação?
Quando menos esperar, a força de uma montanha te acompanhará.
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Paula Neves
Uma cidadã do mundo, amante das artes e eterna buscadora da verdade. Bailarina, desde criança encontrou na dança a espinha dorsal de como se expressa no mundo. A partir daí, em seu caminho já foi atriz, publicou um livro infantil, trabalhou com relações comunitárias em grandes corporações e com inovação social em uma ong de design.