Estar em movimento: Aceitação, a um passo de sentir gratidão
“A vida é maravilhosa.”, ele me disse uma vez. O que quis dizer exatamente? - eu pensei sem emitir qualquer som.
Quando eu fico bem quietinha, imóvel, quase consigo alcançar o que este amigo me falou. Parece que a vida se torna maravilhosa quando começo a enxergar a beleza da fresta de luz entrando pela janela, da confiança de um felino subindo no meu colo, de não precisar de nada além do que está ao meu redor agora.
Paro de resistir, de reclamar, de ficar inconformada com o que não foi, com o que não será, com o que não está. Quem está aqui sou eu. Como me aceitar? Como não julgar essa avalanche de pensamentos e emoções?
Eu sinto muito - não estou pedindo desculpas, é que eu sinto tudo muito mesmo.
Talvez a vida seja maravilhosa quando o que busco não seja, necessariamente, a felicidade e me aceito como sou. Tem de tudo aqui dentro - sombra, luz, pessoas, momentos. Sinto muito por tantas pessoas que foram invadidas pela minha carência em forma de sufocamento. Agora, sim, estou pedindo perdão. Obrigada, ainda assim, vocês me ajudaram a chegar até aqui. Onde? Aqui onde estou. Viva.
A gente se cobra tanto.
Aqui é onde estou vivendo, onde consegui chegar - intensa sempre, buscando me encontrar. A história que tenho para lhe contar não é a de uma vida gloriosa, suprema, famosa - como um dia fantasiei. Chego aqui, humildemente,para descrever o que posso enxergar agora: o reflexo de uma janela por onde se vê o verde da natureza sobreposto ao desenho barroco de um mero guarda corpo. Imagens sem lógica que só percebemos quando colocamos nossa atenção ao que está ao nosso redor agora. O vento vem e faz as folhas dançarem. É só isso mesmo por aqui que tinha para lhe contar. Ah, e tem uma música tocando, um piano. A arte e a beleza dos mais simples momentos não é o que me faz feliz, afinal não estou aqui pra isso, mas é o que me faz sentir o quão maravilhosa pode ser a vida. Aceitação, a um passo de sentir gratidão.
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Paula Neves
Uma cidadã do mundo, amante das artes e eterna buscadora da verdade. Bailarina, desde criança encontrou na dança a espinha dorsal de como se expressa no mundo. A partir daí, em seu caminho já foi atriz, publicou um livro infantil, trabalhou com relações comunitárias em grandes corporações e com inovação social em uma ong de design.